Quem nunca se decepcionou com algo ou com alguém não é?
Muitos chegam até a terapia com esta queixa: o alvo, o motivo da decepção e o responsável pela dor sentida é sempre o outro.
As afirmações mais comuns são: fiz tudo pelo outro, me dediquei demais, não esperava isso de tal pessoa, não dá para acreditar, etc..
É necessário e recomendável sentir a dor da decepção quando ela acontece, deixar o sentimento vir à tona, até porque é difícil ver o lado positivo de algo que está machucando ou de um sentimento que dói no peito. Mas sim, existe algo positivo e restaurador na decepção - a oportunidade de enxergar a realidade das coisas e das pessoas como elas são.
Quando crianças, principalmente quem teve uma infância difícil, tínhamos uma idealização de como a vida deveria ser. O contato com os contos de fadas, nos fazia acreditar que a vida poderia ser mágica, surreal, uma fantasia.
Tudo bem quando isso fica na infância, tudo bem viver o mundo de fantasias enquanto crianças, mas o que acontece com os adultos que se decepcionam demasiadamente e com muita frequência, é que ainda carregam dentro de si a criança idealizadora, e essa lente que vê as coisas pela perspectiva da criança, tende a imaginar e idealizar nas pessoas e nas situações, características que muitas vezes as mesmas não possuem.
O pai que era o super herói, a mãe que era uma princesa, o amiguinho imaginário que estava sempre disponível e concordava com tudo, e mais ainda não quebrava os brinquedos.
Se isso não fica lá atrás no passado e na infância, a decepção acontece por exemplo quando o pai super herói não aparece no primeiro grito por socorro, ou a mãe princesa se altera, grita e passa então a ser uma bruxa má, ou ainda uma pessoa que ao invés de quebrar o seu brinquedo predileto, quebra o seu coração, ou seja as suas expectativas.
No mundo da fantasia onde tudo é perfeito, é comum colocar e projetar as pessoas em um pedestal de perfeição e esse é um dos maiores motivos pelos quais algumas pessoas vão embora, porque elas acabam reconhecendo que jamais atenderão às expectativas de perfeição do outro, não conseguem encenar o personagem que está sendo idealizado nelas.
Quando este alguém se vai, o distanciamento quebra a lente da fantasia e é possível então enxergar a pessoa como ela realmente é. Muitas vezes, essa visão que não condiz com o que foi idealizado, assusta. Mas o que dói mais: ver que o outro não corresponde às expectativas, ou descobrir que a própria lente é que estava suja?
A cura para as decepções se chama autoresponsabilidade, quando assume a responsabilidade sobre as próprias expectativas e fantasias, abre-se a possibilidade para duas escolhas: apontar o dedo para o outro e culpá-lo, gerando estagnação e paralisação ou dar um passo adiante, encarar a realidade e evoluir no aprendizado da convivência e dos relacionamentos.
A meditação ajuda a manter o foco na realidade e limpa a lente trazendo a possibilidade de ver as coisas como elas realmente são. Fazer o exercício diário de serenar os pensamentos e não se identificar com as histórias que são reencenadas pela mente, ajuda a lidar com a realidade das coisas.
É preciso aceitar o presente, escrever a própria história com pessoas reais, aceitando nelas e em si mesmos as imperfeições humanas, permitindo assim que a perfeição também se manifeste em sua forma real. Assim como luz e sombra, noite e dia, chuva e sol, frio e calor, a vida é dualidade.
Todo super herói tem suas batalhas, e toda princesa tem que lidar com uma bruxa má.
Mas os contos de fadas podem ensinar algo muito valioso, que é sempre acreditar num final feliz.
E nisso sim todos temos o direito de acreditar.
E nisso sim todos temos o direito de acreditar.
Carla Bettin - Parapsicóloga Clínica
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