Houve um tempo, para alguns muito tempo, para outros nem tanto, o tempo em que éramos criança, e nem chamo esse tempo de infância, pois muitos adultos ainda encontram-se mentalmente presos nesse tempo, me refiro ao tempo em que éramos crianças de corpo, alma e coração.
Nesse tempo, os sentimentos e sensações eram de alegria, espontaneidade, presença, prazer, autenticidade, risos, brincadeiras, etc...
Aos poucos fomos crescendo e a vida foi nos trazendo responsabilidades, regras, rotina, conceitos de certo e errado, então precisávamos da orientação dos adultos.
Com toda certeza, eles nos orientaram da melhor forma que podiam com aquilo que sabiam.
Em alguns momentos, nos deparamos com situações que nos machucaram, traumatizaram, pessoas que nos feriram, e cada dificuldade nos afastou ainda mais daquelas sensações e sentimentos que nossa criança manifestava com tanta facilidade, características que trouxemos ao mundo como um tesouro, uma preciosidade.
Hoje, adultos, buscamos as mais variadas formas de terapia para nos libertar desses traumas e memórias dessas situações que podemos chamar de lixos emocionais.
Por vezes passamos por vários processos terapêuticos, físicos, mentais e emocionais que nos ajudam a entrar em contato com esses lixos.
Algumas pessoas relatam que mesmo após muitas terapias, não sentem resultado. Então uma reflexão me trouxe uma analogia em relação aos lixos emocionais.
Quando nos dispomos a fazer uma faxina em nossa casa e jogamos as coisas no lixo, o que fazemos com o lixo? Colocamos em sacos e já colocamos no lugar onde passa o caminhão de lixo ou deixamos esses sacos ainda entulhados em nossa casa?
Desapegamos mesmo daquilo que descartamos ou vamos lá dar aquela espiadinha e muitas vezes arrependidos pegamos algo de volta?
Sentimos aperto ou alívio quando o caminhão de lixo passa?
Ontem eu voltava cansada do trabalho, quando na esquina de casa, me deparei com uma menina de uns 7 anos, ela estava andando de patins e dançava como se fosse uma celebridade, nem se importou que eu a olhei, muito pelo contrário, aprimorou ainda mais a dança. Meu coração disparou e na mesma hora eu sabia o que estava acontecendo, ela estava acordando a criança que existia dentro de mim, e me recordando do quão importante é me conectar com ela quando as responsabilidades da vida adulta adormecerem a minha naturalidade e alegria de viver, muitas vezes me impedindo de fazer aquilo que eu realmente gosto.
Ledo engano que é acharmos que a nossa criança ficou lá atrás, naquele corpinho frágil e pequeno, a nossa criança nos acompanha, ela está conosco. Não precisamos ter corpo de criança para manifestá-la, pois alegria, espontaneidade, presença, prazer, autenticidade, risos e brincadeiras, estão disponíveis a qualquer momento. A questão é que aceitamos ou rejeitamos tais atributos, na mesma proporção em que aceitamos ou rejeitamos a nossa criança.
Se a vida ficou pesada, se as emoções negativas nos impedem de sermos naturais e espontâneos, é porque está na hora de não só separar o lixo, mas deixar o caminhão levar. Assim é o processo terapêutico, não adianta somente identificar as programações atrapalhadas, é necessário limpar os lixos mentais, resgatar e manifestar a essência que somos, aquilo que é nossa verdadeira natureza, que permite que a gente seja e mostre ao mundo a melhor versão de nós mesmos, aquela que acontece naturalmente, sem máscaras e sem esforço, que não tem um script, que assim como a minha criança me recordou ontem, ela apenas ouve a música e dança, como se nada e ninguém mais importasse, apenas o prazer e a experiência da dança é que importam, e a oportunidade e a alegria de poder dançar.
Carla Bettin - Parapsicóloga Clínica
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